Não existe fotografia gerada por inteligência artificial
– Por Osvaldo Furiatto –
Sim, o tema é polêmico. Tem sido cada vez mais comum lermos notícias e matérias que usam a expressão “fotografia gerada por inteligência artificial”. E isso não é uma exclusividade de leigos e pessoas que não entendem muito sobre o tema. Também é comum esta expressão errônea aparecer em conteúdos de grandes veículos de comunicação e jornalismo e, já li inclusive, até mesmo, em sites especializados no assunto. Mas, o que eu posso garantir é: não existe fotografia gerada por inteligência artificial.
Por que eu tenho tanta certeza disso? Vou explicar. Primeiramente precisamos entender o que é uma fotografia. Para tanto, fui buscar a definição no dicionário Michaelis, a qual, transcrevo na íntegra abaixo:
fotografia
fo·to·gra·fi·a
substantivo feminino
1. Arte ou processo de reproduzir, pela ação da luz ou de qualquer espécie de energia radiante, sobre uma superfície sensibilizada, imagens obtidas mediante uma câmara escura.
2. A imagem obtida nesse processo; foto, retrato.”
Em seguida, também busquei a etimologia de fotografia (a origem da palavra). Segundo o Dicionário Etimológico, ela tem origem no idioma grego sendo a junção de duas outras palavras: φῶς (fós, que significa luz) e γραφή (grafí, que significa escrita). Esta junção, basicamente, é a definição que todo fotógrafo conhece: fotografia é escrever com luz.
As duas definições descritas acima são perfeitas para sustentar a certeza de que não existe fotografia gerada por inteligência artificial. Simplificando e explicando: para uma fotografia existir, é necessário um processo de captação de luz ou de alguma espécie de energia através de uma superfície fotossensível, como um filme ou um sensor, por exemplo. Sendo assim, tudo aquilo gerado por qualquer meio onde este processo não existiu não é uma fotografia.
Mas então o que são essas imagens geradas por IA que estão por todo lado? Para alguém que trabalha há tanto tempo como eu nas áreas de artes gráficas, desenho e fotografia, essas imagens tem características de um desenho. E como podemos comprovar isso? Vamos mais uma vez recorrer ao dicionário Michaelis, desta vez, com a definição da palavra desenho:
desenho
de·se·nho
substantivo masculino
1. Representação gráfica, por meio de linhas, cores e sombras, de objetos, seres, ideias, sensações etc.
2. Arte e técnica de representar visualmente a forma desses elementos, servindo-se de linhas ou traços, assim como de efeitos de luz, cores e sombras.
3. Conjunto de procedimentos relativos a essa arte e a essa técnica.
Mas o mais interessante vem de um item presente na área de expressões da palavra no mesmo dicionário:
Desenho de imitação: desenho que reproduz, com fidelidade, uma figura, objeto, paisagem ou qualquer outro elemento do mundo real ou de outra imagem ou reprodução.
Aqui sim, chegamos a algo que se encaixa perfeitamente no que estamos discutindo. As inteligências artificiais são “treinadas” com fotografias e vídeos reais. Então, ela aprende sobre pessoas, cores, animais, paisagens, etc. Quando alguém acessa uma dessas IAs e pede para ela criar uma “fotografia” sobre tal assunto descrito, ela pega todo seu conhecimento e “desenha” uma imagem hiper realista usando técnicas de imitação. Parece absurdo o resultado de um desenho ficar idêntico a uma foto, mas não é. Pelo mundo todo, há milhares de desenhistas humanos capazes de fazer trabalhos com aparência de fotografia. Ainda que sejam muito realistas, são desenhos, já que não passaram pelo processo de fotografia.
Depois dessa explicação, posso afirmar, não existe fotografia gerada por IA. O termo mais próximo a ser utilizado deveria ser “Imagem gerada por inteligência artificial” ou “Desenho gerado por inteligência artificial”.
E aí, você já tinha parado para pensar sobre isso ou também acreditava que existia fotografia gerada por IA?