Sorte, preparo ou os dois: Você conhece a história da minha foto de maior sucesso?
– Por Osvaldo Furiatto –
Antes de contar a história da minha foto de maior sucesso, preciso contar algo que aconteceu uma semana antes dela ser feita. Era maio de 2011 (não me lembro exatamente o dia) e eu esta fazendo um curso de especialização em fotografia. O tema da aula era fotografia de objetos em movimento e o tempo exato da foto. O professor não permitia nenhum ajuste da imagem após a captura e os cartões eram descarregados na hora, havendo uma avaliação em seguida. Eu tinha feito a imagem de um ciclista de velocidade treinando, usei uma configuração na câmera para gerar um panning, mas o enquadramento não ficou 100% perfeito. Como nem o corte era permitido, resolvi submeter a imagem para avaliação assim mesmo. Ouvi então a frase que nunca mais me esqueceria: “um fotógrafo da sua categoria não pode perder o timing da foto”. Essas palavras me marcaram profundamente. Todo o trabalho que tive para fazê-la foi por água abaixo, eu não havia respeitado o tempo da foto.
No final da mesma aula, conversamos sobre qual seria a melhor configuração da câmera para o caso da necessidade de uma foto rápida, como um flagrante, por exemplo. E passei a andar com esses parâmetros pré-configurados. Em um dia qualquer da semana seguinte, saí para mais um trabalho. Não imaginava o que me esperaria pelo caminho. O trabalho em questão era a realização de um ensaio fotográfico de uma motocicleta para uma reportagem de avaliação da mesma. Algo corriqueiro, pois fazia no mínimo um ensaio desses por semana. A primeira parte era com a moto em movimento. Escolhemos uma estradinha bem pouco movimentada da região. Tudo ocorreu normalmente e, finalizada essa etapa, pegamos o caminho para a segunda parte, o ensaio dela parada.
Foi ai que algo estranho aconteceu. Eu e o jornalista responsável pelos testes estávamos acostumados com essa estrada. Já tínhamos realizado algumas dezenas de ensaios lá. Mas em um determinado momento nos deparamos com uma enorme equipe de produção, com câmeras de vídeo, gruas, iluminação, etc. Saquei logo minha câmera achando que estavam gravando uma novela, série, filme ou algo parecido. O motorista diminuiu a velocidade para tentarmos ver o que era. Repentinamente, de uma curva bem próxima à nossa posição, surge um veículo. Percebi que as câmeras apontavam para ele e mais do que rapidamente fiz uma foto. Só deu tempo de fazer uma única foto e passamos por ele.
Quando olhei para trás vi que a equipe de produção ficou meio desesperada e retirou o carro da estrada. Mas até aí não tinha a menor ideia do que seria. Fomos então para o local da segunda parte do ensaio e terminei o meu serviço. No mesmo dia, conversei com alguns amigos da imprensa tentando descobrir se sabiam da gravação de alguma novela ou filme na região. Todos foram categóricos em dizer que não tinham nenhuma informação que confirmasse isso. Foi então que pensei: será que tudo aquilo tinha haver com o carro?
Consultei então outro amigo que escreve sobre veículos. A primeira resposta dele foi: qual carro era? Na correria que tinha sido o dia do ensaio não me atentei a este fato. Pedi alguns minutos e fui olhar a marca e modelo. Retornei com a imagem e respondi seu questionamento: é um Renalt Duster. Eu nem sabia que carro é esse, meu foco até o momento eram as motocicletas. Atônito ele me perguntou: você fotografou um Renault Duster? Mostro a foto e antes mesmo dele olhar para a imagem, me pergunta novamente: você tem certeza que fotografou um Renault Duster?
Pedi para ele olhar a imagem, e questionei qual o motivo do espanto dele. A reposta foi simples: ninguém nunca fotografou um Duster sem disfarce até agora, é o maior segredo da indústria automotiva na atualidade. Foi minha vez então de ficar atônito. Após um breve papo, permiti que ele publicasse a imagem em seu blog de veículos. O acordo incluía que parte da história de como a foto foi captura teria que constar no texto, incluindo meu nome e o nome da minha agência (Mira e Clica). Menos de uma hora depois, dois grandes portais do Brasil entraram em contato comigo querendo a imagem. Os acordos com eles também mantiveram os mesmos requisitos. Em menos de 24 horas a imagem e a notícia haviam se espalhado por todo o Brasil. Em menos de 36 horas toda a América Latina estava noticiando. Em 48 horas chegou à Europa, e lá teve um efeito viral sem precedentes. Descobri aí que o design do carro havia sido feito pela subsidiária romena da Renault.
Em uma semana, quando parei o monitoramento, o Google possuía mais de um milhão de referências diferentes contendo meu nome e a imagem. Meu amigo que escrevia sobre carros e foi o primeiro a publicar a imagem me disse, alguns dias depois, que montadora teve que convocar uma entrevista coletiva online às pressas, porque os departamentos de marketing e a assessoria não estavam dando conta do número de questionamentos que chegava da imprensa especializada. Depois de um tempo, ele me disse também que o lançamento foi antecipado em um mês. Apesar de ter outras imagens e textos que poderiam ser considerados de sucesso, nenhuma atingiu um nível desses, e principalmente, em tão pouco tempo. Nem de longe esta é minha foto mais bonita esteticamente, mas o poder de comunicação que ela teve naquele momento e o grau de dificuldade para consegui-la foram tamanhos, que superou todo o resto. Mas o mais interessante é que desta vez eu não havia perdido o timing da foto. A bronca no curso valeu e muito. Na aula seguinte coloquei esse caso para avaliação e meu professor simplesmente não acreditava no que tinha acontecido. Até hoje não perco mais o tempo das fotos que faço, principalmente as que envolvem velocidade.
Apresento então a vocês minha foto de maior sucesso até hoje:
Primeira imagem mundial do Renault Duster sem disfarces antes do lançamento